O aparecimento de mais um espaço de crónicas deve a todos ficar indiferente. Deus sabe como lhe fico indiferente, sendo o seu responsável. Assim, irresponsavelmente, exerço a minha liberdade de ser inútil, aspecto máximo da manifestação de qualquer liberdade.
Para compreender a razão de ser deste fenómeno irracional, comecemos por lhe desconstruir o significado.
A rigor, como substantivo, (diz o Priberam) a crónica é:
a) Uma história que expõe os factos em narração simples e segundo a ordem em que eles se vão dando.
b) Secção de periódico destinada a notícias determinadas.
c) [Figurado] Biografia escandalosa.
E, como adjectivo:
a) Algo que dura há muito tempo.
b) [Figurado] Um inveterado.
c) [Medicina] Uma doença permanente no indivíduo.
Como é evidente, estamos a falar do último caso:
Um fenómeno patológico que se manifesta com irritante regularidade semanal, com a simplicidade de quem inocentemente está a contar uma história. Mas não há inocência no contar-se uma história e é no supor-se que a há, ou no fingir que se supõe que a há que reside o erro do leitor e a perfídia do cronista crónico.
Assim, de forma maquiavélica e peculiar, o presente texto auto-justifica-se pela ausência evidente de justificação, clarifica-se pela ausência de sentido e faz-se pertinente pela ausência de assunto.
Mais caricato, consegue, sem argumentos convincentes, provar que é uma crónica de si próprio, contando, despreocupadamente, a história de se achar aqui e de ser o que é, um texto chamado crónica, que é o primeiro de vários e, como outros que se lhe seguem, não diz nem quer dizer nada.
Ou não.